domingo, 13 de novembro de 2016

Deuteronômio 32 ensina o determinismo? Uma analise do Cântico de Moisés.


 Deuteronômio 32 ensina o determinismo? Uma analise do Cântico de Moisés.  

 
 Introdução

Um texto muito usado por deterministas para provar a soberania exaustiva é Deuteronômio 32 principalmente o verso 39 que diz:

“Vede agora que eu, eu o sou, e mais nenhum deus há além de mim; eu mato, e eu faço viver; eu firo, e eu saro, e ninguém há que escape da minha mão”.

Alguns dizem pelo simples fato do texto falar que Deus faz viver, fere, sara e que não há ninguém que possa escapar das suas mãos, esse texto mostra a meticulosidade da determinação de Deus! Mas seria esse texto base para o determinismo? Ou simplesmente seria uma má interpretação vinda de não se analisar o contexto dessa passagem? Neste breve estudo vamos colocar o texto em seu contexto e depois detalharemos o cântico de Moises no capitulo 32. Essa analise vai provar que esse texto não da base o determinismo, mas simplesmente mostra que Deus é justo em seus juízos, pois pune os maus, mas quando existe arrependimento sua misericórdia se estende aos arrependidos.

1. O contexto

            Essa passagem está relacionada a Deuteronômio 31.26 – 30 que mostra o testemunho de Moises a Israel contra a obstinação do povo. O texto diz:

            “Tomai este livro da lei, e ponde-o ao lado da arca da aliança do Senhor vosso Deus, para que ali esteja por testemunha contra ti”. Porque conheço a tua rebelião e a tua dura cerviz; eis que, vivendo eu ainda hoje convosco, rebeldes fostes contra o Senhor; e quanto mais depois da minha morte? Ajuntai perante mim todos os anciãos das vossas tribos, e vossos oficiais, e aos seus ouvidos falarei estas palavras, e contra eles por testemunhas tomarei o céu e a terra. Porque eu sei que depois da minha morte certamente vos corrompereis, e vos desviareis do caminho que vos ordenei; então este mal vos alcançará nos últimos dias, quando fizerdes mal aos olhos do Senhor, para o provocar à ira com a obra das vossas mãos. Então Moisés falou as palavras deste cântico aos ouvidos de toda a congregação de Israel, até se acabarem: Deuteronômio 31:26-30”

F.F Bruce segue na mesma direção ao apontar o contexto do capitulo 32 dizendo:

“No seu contexto, isso está relacionado a 31.28,29 e, na verdade, é o testemunho de Moisés a Israel, em termos que poderiam ser aplicados a qualquer época da história do povo.[1]


Moises acabara de ter sido avisado por Deus que no decorrer dos anos o povo se rebelaria contra o Senhor que os resgatou do Egito (31.14 – 20). Isso de acordo com o texto aconteceria não por uma determinação de Deus, mas por causa da desobediência do povo que quebraria o concerto firmado com o Altíssimo. Assim, o Senhor manda Moises escrever um cântico e ensinar o mesmo a todo o povo para que quando essas coisas se cumprirem, o cântico, responda contra eles mestrando a rebeldia dos mesmos.

2. Analisando o Cântico de Moises

O capitulo 32 nos mostra Moisés obedecendo à ordenança divina e entregando o cântico ao povo. O cântico começa em uma linguagem poética tomando os céus e a terra como testemunha (32.1 – 2). Não é a primeira vez que Deus toma os céus e a terra como testemunha de suas palavras, pois no capitulo 30 Deus diz:

Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência,” Deuteronômio 30:19


Os céus e a terra mais uma vez são chamados como testemunha das palavras de advertência sobre o que viria por causa da desobediência ao concerto estabelecido. A similaridade das testemunhas dos capítulos 30 e 32 nos mostram o que Deus esta dizendo ao povo, a saber, que a criação testemunhará para mostrar que o castigo sobreveio por não serem fieis ao concerto feito com o altíssimo. O teólogo Martthy Henry acertadamente diz:

“Com um apelo solene, aos céus e à terra, a respeito da veracidade e importância do que ele estava prestes a dizer; e a justiça dos procedimentos divinos, contra um povo rebelde e relapso, pois tinha dito (cap.31.28) que neste cântico chamaria os céus e a terra como testemunhas contra eles. Os céus e a terra ouviram antes mesmo deste povo perverso que não refletia. Pois eles não se rebelaram quanto a obediência de seu Criador, mas permanecem até hoje, segundo as suas ordenanças, como seus servos (SL119.89 – 91).” [5]


Assim, o cântico nos mostra que Deus está advertindo Israel que não existirão desculpas, pois foram avisados por Deus e não seriam condenados de maneira injusta.

2.1. A declaração preliminar da acusação

             “Porque apregoarei o nome do Senhor; engrandecei a nosso Deus. Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita, porque todos os seus caminhos justos são; Deus é a verdade, e não há nele injustiça; justo e reto é. Deuteronômio 32:3.4”

Os versos citados vão fazer uma exaltação da perfeição de Deus e de sua justiça, mostrando ao povo que não existe injustiça quando Ele (Deus) exerce seu juízo. Deus assim, esta livre de qualquer acusação de injustiça que os filhos de Israel possam tentar usar para se justificarem. Uma vez que esses versos mostram a seu povo que Deus julga com justiça. Temos na sequencia uma declaração preliminar da acusação contra Israel.

“Corromperam-se contra ele; não são seus filhos, mas a sua mancha; geração perversa e distorcida é. Recompensais assim ao Senhor, povo louco e ignorante? Não é ele teu pai que te adquiriu, te fez e te estabeleceu? Lembra-te dos dias da antiguidade, atenta para os anos de muitas gerações: pergunta a teu pai, e ele te informará; aos teus anciãos, e eles te dirão.” Deuteronômio 32:5-7

O motivo de Deus castigar seu povo esta de forma resumida nestes versos mostrando que foi pelo fato dos mesmos se corromperem contra Ele que estavam sendo disciplinados. É por isso que Deus os chama a lembrar das maravilhas realizadas em beneficio do povo de Israel. Isso fica muito claro ao observarmos essas lembranças nos versos 8 a 14, pois os mesmos chamam a atenção em dizer como Deus foi bondoso com eles (Israel) diante das nações (verso 8), como considerou os mesmo como sua herança (verso 9), como foram considerados a menina dos seus olhos (verso 10), como os protegeu igual águia que protege seus filhotes (verso 11), como Ele os guiou (verso 12) e como os sustentou com bondade (verso 13 e 14). A ingratidão do povo ao desprezar tamanha benevolência ofende a justiça de Deus e traz o julgamento sobre eles. Isso fica ainda mais evidente quando observarmos o detalhamento da acusação que os próximos versos mostram.

2.3. A acusação detalhada contra Israel

Do verso 15 até o 18 vemos as acusações detalhadas das perversidades cometidas por Israel. O texto diz:

   “E, engordando-se Jesurum, deu coices (engordaste-te, engrossaste-te, e de gordura te cobriste) e deixou a Deus, que o fez, e desprezou a Rocha da sua salvação.Com deuses estranhos o provocaram a zelos; com abominações o irritaram.Sacrifícios ofereceram aos demônios, não a Deus; aos deuses que não conheceram, novos deuses que vieram há pouco, aos quais não temeram vossos pais. Esqueceste-te da Rocha que te gerou; e em esquecimento puseste o Deus que te formou; Deuteronômio 32:15-18”


O povo de Israel desprezou a Rocha da sua salvação, serviram a deuses estranhos, fizeram abominações e esqueceu-se de Deus desprezando tudo que Ele tinha feito por eles. O texto nos diz que é por causa de todas essas abominações que Deus traria a sua justa punição, ou seja, a ira de Deus foi provocada pela ingratidão e afronta dos israelitas que deveriam alegremente obedecer ao concerto de Deus, pois o mesmo sempre foi benevolente para com eles. Assim, tendo anunciado a acusação, Deus anuncia a sentença que aplicaria sobre eles.

2.4. A Sentença é declarada

Os versos de 19 a 25 vão nos mostrar a sentença que será aplicada pela transgressão. O texto diz:

O que vendo o Senhor, os desprezou, por ter sido provocado à ira contra seus filhos e suas filhas; E disse: Esconderei o meu rosto deles, verei qual será o seu fim; porque são geração perversa, filhos em quem não há lealdade. A zelos me provocaram com aquilo que não é Deus; com as suas vaidades me provocaram à ira: portanto eu os provocarei a zelos com o que não é povo; com nação louca os despertarei à ira. Porque um fogo se acendeu na minha ira, e arderá até ao mais profundo do inferno, e consumirá a terra com a sua colheita, e abrasará os fundamentos dos montes. Males amontoarei sobre eles; as minhas setas esgotarei contra eles. Consumidos serão de fome, comidos pela febre ardente e de peste amarga; e contra eles enviarei dentes de feras, com ardente veneno de serpentes do pó. Por fora devastará a espada, e por dentro o pavor; ao jovem, juntamente com a virgem, assim à criança de peito como ao homem encanecido. Deuteronômio 32:19-25”

O Comentário bíblico Moody explica muito bem a sentença que Deus aplicaria a seu povo:

 (Ele) os desprezou. . . e disse: Esconderei . . . o meu rosto. Aplicando o princípio da lex talionis, Deus rejeitaria Israel e retiraria Sua proteção. Ele despertaria o ciúme de Israel através de um povo que não é povo (v. 21; cons. Ef. 2:12). Isto é, Ele garantiria a um povo que desconhecia o favor da Sua aliança, a vitória sobre os filhos em quem não há lealdade (v. 20b). Amontoarei males sobre eles. Nos versículos 23-25 as maldições da aliança, especialmente a pestilência, a fome e a espada, os terrores que vinham junto com o clímax do cerco e do exílio, estão sendo postos em destaque (cons. cap. 28). Nisso residiria o triunfo daquele que não é povo. Como resultado do cerco, Israel seria removida do reino de Deus, vindo a se tomar ela mesma, aquela que não é povo (cons. Os. 1:9).[2]

De acordo com o comentário de Moody Deus aplicaria as seguintes sentenças:
1ª. Retiraria sua proteção
2ª. Ele permitiria que um povo gentio vencesse Israel,
3ª. As maldiçoes oriundas da quebra da aliança do capitulo 28.
4ª Israel iria ser cativa pelos seus inimigos.

Todas essas mazelas viriam por causa da desobediência e não porque Deus simplesmente decidiu punir seu povo sem causa! É exatamente isso que nos aponta o verso 18 deste capítulo onde nos é dito que foi por eles terem abandonado ao Senhor que o mesmo os castiga.

2.5. O castigo pela a crueldade apresentada pelos inimigos de Israel mostra a misericórdia de Deus para com Israel.

            Muitos têm usado o argumento que Deus usou um povo gentio para vencer a Israel determinando o seu pecado e ao mesmo tempo culpando os mesmos por ter feito o que Ele determinou, mas tal afirmação força o texto não dando uma correta interpretação. O texto diz que Deus não destruiria a nação totalmente, pois Deus não queria que seus inimigos achassem que venceram por seus próprios esforços ou deuses (verso 26 a 28). Deus permitiu que Eles vencessem a Israel para assim punir seu povo por seus maus atos, mas Eles deveriam ter entendido que o povo de Israel só poderia ser conquistado se o seu Divino protetor os tivesse entregado (verso 30 ao 34). Deus punirá os inimigos de Israel, pois os mesmos aproveitaram a ocasião para serem cruéis menosprezando não apenas Israel, mas atribuindo a seus deuses a vitória (35).
Sobre isso mais uma vez Comentário Bíblico de Deuteronômio Moody é preciso, pois diz ao comentar os versos 29b a 34:

“Além disso, se o inimigo fosse sábio, atentariam para o seu fim. Este tema continua no versículo 32 e segs. Sua arrogância se transformaria em tremor, se entendessem que o Deus de Israel, que julgou até o Seu próprio povo com ira abrasadora, certamente os julgaria também com justiça estrita (v. 34) por causa de sua depravação e crueldade (vs. 32, 33). O maior dos males da nação inimiga seria o de estar em inimizade com o povo de Deus. Porque, embora isto representasse a vara da ira de Deus contra Israel, seus próprios motivos e propósitos seriam bastante diferentes (cons. 27b; Is. 10:7 e segs.).”[3]

            Assim o hino nos está a mostrar que os inimigos de Israel ao invés de orgulho deveriam ter temor, mas não foi esse o sentimento deles, pois achariam que venceram ao Senhor e por essa razão receberiam o catigo.
            O texto vai do verso 34 ao 42 mostrando a misericórdia de Deus ao seu povo, pois Deus não permitiria que os inimigos de Israel os destruíssem totalmente, mesmo que os mesmos merecessem tal castigo.

2.6 O final do hino

O hino termina dizendo para todas as nações da terra se alegrar, pois Deus seria misericordioso com eles. Isto claramente é uma benção, uma boa noticia, pois a nação da onde viria o Salvador seria preservada pelas mãos poderosas de Deus. O Comentário de Moody mais uma vez nos mostra essa alegria contida neste verso 43:

            O hino termina com a perspectiva do júbilo sobre o juízo de Deus que envolve ambos, a retribuição ao inimigo e a expiação de toda a culpa dentro do reino de Deus. Uma vez que as nações são universalmente chamadas para participarem da alegria da salvação de Deus, o horizonte desta esperança é claramente a era messiânica, quando todas as nações da terra encontrarão bênçãos na semente de Abraão.[4]

Podemos glorificar a Deus por proteger seu povo cumprindo sua promessa feita a Abraão de abençoar todas as famílias da terra!

Conclusão: Agora fica fácil entender o verso 39

Agora que colocamos o contexto e analisamos completamente o hino de Moises fica fácil compreender o verso 39 que diz:

            "Vejam agora que eu sou o único, eu mesmo. Não há deus além de mim. Faço morrer e faço viver, feri e curarei, e ninguém é capaz de livrar-se da minha mão. Deuteronômio 32:39”

            Deus está falando para seu povo que não existe outro Deus, pois Ele é único! Os idolatras confiariam no poder de seus deuses para defendê-los, mas eles se mostrariam incapazes diante do Deus verdadeiro. Portanto o povo de Deus deveria aprender que o seu Deus era o único Senhor! Deus também é o dono da vida e da morte, pois é Ele o criador e, portanto pode dar vida e tirar a vida. Ele pode castigar com feridas os desobedientes e curar os mesmos quando existe arrependimento e, ninguém pode escapar dos seus justos juízos.
            São essas verdades que o texto está apresentando, pois o nosso Senhor é Deus justo e santo! Deus não determinou a maldade dos povos apresentados neste texto (Israel e gentios), mas puniu a maldade que eles fizeram de maneira livre. Aleluia, o nosso Deus é o Justo juiz de toda a Terra!
             
           
             




  

  

           

           





 






[1] Comentário Biblico NVI F.F Bruce pagina 385.
[2] Comentário Bíblico Moody sobre Deuteronômio  pagina 113.
[3] Ibird, pagina 114
[4] Ibird, pagina 115.
[5] Matthew Henry pagina 661


             
           
             



  

  

           

           









Um comentário:

  1. Excelente texto. Comprova cabalmente que este versículo está longe de comprovar qualquer determinismo incondicional.

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