Deuteronômio 32 ensina o determinismo? Uma analise do Cântico de Moisés.
Introdução
Um texto muito usado por
deterministas para provar a soberania exaustiva é Deuteronômio 32
principalmente o verso 39 que diz:
“Vede
agora que eu, eu o sou, e mais nenhum deus há além de mim; eu mato, e eu faço
viver; eu firo, e eu saro, e ninguém há que escape da minha mão”.
Alguns dizem pelo simples fato do texto falar que Deus faz
viver, fere, sara e que não há ninguém que possa escapar das suas mãos, esse
texto mostra a meticulosidade da determinação de Deus! Mas seria esse texto
base para o determinismo? Ou simplesmente seria uma má interpretação vinda de
não se analisar o contexto dessa passagem? Neste breve estudo vamos colocar o
texto em seu contexto e depois detalharemos o cântico de Moises no capitulo 32.
Essa analise vai provar que esse texto não da base o determinismo, mas
simplesmente mostra que Deus é justo em seus juízos, pois pune os maus, mas
quando existe arrependimento sua misericórdia se estende aos arrependidos.
1. O contexto
Essa
passagem está relacionada a Deuteronômio 31.26 – 30 que mostra o testemunho de
Moises a Israel contra a obstinação do povo. O texto diz:
“Tomai
este livro da lei, e ponde-o ao lado da arca da aliança do Senhor vosso Deus,
para que ali esteja por testemunha contra ti”. Porque conheço a tua rebelião e
a tua dura cerviz; eis que, vivendo eu ainda hoje convosco, rebeldes fostes
contra o Senhor; e quanto mais depois da minha morte? Ajuntai perante mim todos
os anciãos das vossas tribos, e vossos oficiais, e aos seus ouvidos falarei
estas palavras, e contra eles por testemunhas tomarei o céu e a terra. Porque
eu sei que depois da minha morte certamente vos corrompereis, e vos desviareis
do caminho que vos ordenei; então este mal vos alcançará nos últimos dias,
quando fizerdes mal aos olhos do Senhor, para o provocar à ira com a obra das
vossas mãos. Então Moisés falou as palavras deste cântico aos ouvidos de toda a
congregação de Israel, até se acabarem: Deuteronômio 31:26-30”
F.F
Bruce segue na mesma direção ao apontar o contexto do capitulo 32 dizendo:
“No seu contexto, isso está relacionado a
31.28,29 e, na verdade, é o testemunho de Moisés a Israel, em termos que
poderiam ser aplicados a qualquer época da história do povo.[1]”
Moises acabara de ter sido avisado por Deus que no decorrer dos anos o
povo se rebelaria contra o Senhor que os resgatou do Egito (31.14 – 20). Isso
de acordo com o texto aconteceria não por uma determinação de Deus, mas por
causa da desobediência do povo que quebraria o concerto firmado com o
Altíssimo. Assim, o Senhor manda Moises escrever um cântico e ensinar o mesmo a
todo o povo para que quando essas coisas se cumprirem, o cântico, responda
contra eles mestrando a rebeldia dos mesmos.
2.
Analisando o Cântico de Moises
O capitulo 32 nos mostra
Moisés obedecendo à ordenança divina e entregando o cântico ao povo. O cântico
começa em uma linguagem poética tomando os céus e a terra como testemunha (32.1
– 2). Não é a primeira vez que Deus toma os céus e a terra como testemunha de
suas palavras, pois no capitulo 30 Deus diz:
“Os
céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a
vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois a vida, para que vivas, tu
e a tua descendência,” Deuteronômio 30:19
Os céus e a terra mais uma
vez são chamados como testemunha das palavras de advertência sobre o que viria
por causa da desobediência ao concerto estabelecido. A similaridade das
testemunhas dos capítulos 30 e 32 nos mostram o que Deus esta dizendo ao povo, a
saber, que a criação testemunhará para mostrar que o castigo sobreveio por não
serem fieis ao concerto feito com o altíssimo. O teólogo Martthy Henry
acertadamente diz:
“Com
um apelo solene, aos céus e à terra, a respeito da veracidade e importância do
que ele estava prestes a dizer; e a justiça dos procedimentos divinos, contra
um povo rebelde e relapso, pois tinha dito (cap.31.28) que neste cântico
chamaria os céus e a terra como testemunhas contra eles. Os céus e a terra
ouviram antes mesmo deste povo perverso que não refletia. Pois eles não se
rebelaram quanto a obediência de seu Criador, mas permanecem até hoje, segundo
as suas ordenanças, como seus servos (SL119.89 – 91).” [5]
Assim, o cântico nos
mostra que Deus está advertindo Israel que não existirão desculpas, pois foram
avisados por Deus e não seriam condenados de maneira injusta.
2.1.
A declaração preliminar da acusação
“Porque apregoarei o nome do Senhor;
engrandecei a nosso Deus. Ele é a
Rocha, cuja obra é perfeita, porque todos os seus caminhos justos são; Deus é a
verdade, e não há nele injustiça; justo e reto é. Deuteronômio 32:3.4”
Os versos citados vão fazer
uma exaltação da perfeição de Deus e de sua justiça, mostrando ao povo que não
existe injustiça quando Ele (Deus) exerce seu juízo. Deus assim, esta livre de
qualquer acusação de injustiça que os filhos de Israel possam tentar usar para
se justificarem. Uma vez que esses versos mostram a seu povo que Deus julga com
justiça. Temos na sequencia uma declaração preliminar da acusação contra
Israel.
“Corromperam-se
contra ele; não são seus filhos, mas a sua mancha; geração perversa e distorcida
é. Recompensais assim ao Senhor, povo louco e ignorante? Não é ele teu pai que
te adquiriu, te fez e te estabeleceu? Lembra-te dos dias da antiguidade, atenta
para os anos de muitas gerações: pergunta a teu pai, e ele te informará; aos
teus anciãos, e eles te dirão.” Deuteronômio 32:5-7
O motivo de Deus castigar
seu povo esta de forma resumida nestes versos mostrando que foi pelo fato dos
mesmos se corromperem contra Ele que estavam sendo disciplinados. É por isso
que Deus os chama a lembrar das maravilhas realizadas em beneficio do povo de
Israel. Isso fica muito claro ao observarmos essas lembranças nos versos 8 a
14, pois os mesmos chamam a atenção em dizer como Deus foi bondoso com eles
(Israel) diante das nações (verso 8), como considerou os mesmo como sua herança
(verso 9), como foram considerados a menina dos seus olhos (verso 10), como os
protegeu igual águia que protege seus filhotes (verso 11), como Ele os guiou (verso
12) e como os sustentou com bondade (verso 13 e 14). A ingratidão do povo ao
desprezar tamanha benevolência ofende a justiça de Deus e traz o julgamento
sobre eles. Isso fica ainda mais evidente quando observarmos o detalhamento da
acusação que os próximos versos mostram.
2.3.
A acusação detalhada contra Israel
Do verso 15 até o 18 vemos
as acusações detalhadas das perversidades cometidas por Israel. O texto diz:
“E,
engordando-se Jesurum, deu coices (engordaste-te, engrossaste-te, e de gordura
te cobriste) e deixou a Deus, que o fez, e desprezou a Rocha da sua salvação.Com
deuses estranhos o provocaram a zelos; com abominações o irritaram.Sacrifícios
ofereceram aos demônios, não a Deus; aos deuses que não conheceram, novos
deuses que vieram há pouco, aos quais não temeram vossos pais. Esqueceste-te da Rocha que
te gerou; e em esquecimento puseste o Deus que te formou; Deuteronômio
32:15-18”
O povo de Israel desprezou
a Rocha da sua salvação, serviram a deuses estranhos, fizeram abominações e
esqueceu-se de Deus desprezando tudo que Ele tinha feito por eles. O texto nos
diz que é por causa de todas essas abominações que Deus traria a sua justa
punição, ou seja, a ira de Deus foi provocada pela ingratidão e afronta dos
israelitas que deveriam alegremente obedecer ao concerto de Deus, pois o mesmo
sempre foi benevolente para com eles. Assim, tendo anunciado a acusação, Deus
anuncia a sentença que aplicaria sobre eles.
2.4.
A Sentença é declarada
Os versos de 19 a 25 vão
nos mostrar a sentença que será aplicada pela transgressão. O texto diz:
“O
que vendo o Senhor, os desprezou, por ter sido provocado à ira contra seus
filhos e suas filhas; E disse: Esconderei o meu rosto deles, verei qual será o
seu fim; porque são geração perversa, filhos em quem não há lealdade. A zelos
me provocaram com aquilo que não é Deus; com as suas vaidades me provocaram à
ira: portanto eu os provocarei a zelos com o que não é povo; com nação louca os
despertarei à ira. Porque um fogo se acendeu na minha ira, e arderá até ao mais
profundo do inferno, e consumirá a terra com a sua colheita, e abrasará os
fundamentos dos montes. Males amontoarei sobre eles; as minhas setas esgotarei
contra eles. Consumidos serão de fome, comidos pela febre ardente e de peste
amarga; e contra eles enviarei dentes de feras, com ardente veneno de serpentes
do pó. Por fora devastará a espada, e por dentro o pavor; ao jovem, juntamente
com a virgem, assim à criança de peito como ao homem encanecido. Deuteronômio
32:19-25”
O Comentário bíblico Moody explica
muito bem a sentença que Deus aplicaria a seu povo:
“(Ele) os desprezou. . . e disse: Esconderei
. . . o meu rosto. Aplicando o
princípio da lex talionis, Deus
rejeitaria Israel e retiraria Sua proteção. Ele despertaria o ciúme de Israel
através de um povo que não é povo (v. 21; cons. Ef. 2:12). Isto é, Ele
garantiria a um povo que desconhecia o favor da Sua aliança, a vitória sobre os
filhos em quem não há lealdade (v. 20b). Amontoarei
males sobre eles. Nos versículos 23-25 as maldições da aliança,
especialmente a pestilência, a fome e a espada, os terrores que vinham junto
com o clímax do cerco e do exílio, estão sendo postos em destaque (cons. cap.
28). Nisso residiria o triunfo daquele que não é povo. Como resultado do cerco,
Israel seria removida do reino de Deus, vindo a se tomar ela mesma, aquela que
não é povo (cons. Os. 1:9).[2]”
De acordo com o comentário
de Moody Deus aplicaria as seguintes sentenças:
1ª. Retiraria sua proteção
2ª. Ele permitiria que um
povo gentio vencesse Israel,
3ª. As maldiçoes oriundas
da quebra da aliança do capitulo 28.
4ª Israel iria ser cativa
pelos seus inimigos.
Todas essas mazelas viriam
por causa da desobediência e não porque Deus simplesmente decidiu punir seu
povo sem causa! É exatamente isso que nos aponta o verso 18 deste capítulo onde
nos é dito que foi por eles terem abandonado ao Senhor que o mesmo os castiga.
2.5.
O castigo pela a crueldade apresentada pelos inimigos de Israel mostra a
misericórdia de Deus para com Israel.
Muitos têm usado o argumento que Deus usou um povo gentio
para vencer a Israel determinando o seu pecado e ao mesmo tempo culpando os
mesmos por ter feito o que Ele determinou, mas tal afirmação força o texto não
dando uma correta interpretação. O texto diz que Deus não destruiria a nação
totalmente, pois Deus não queria que seus inimigos achassem que venceram por
seus próprios esforços ou deuses (verso 26 a 28). Deus permitiu que Eles
vencessem a Israel para assim punir seu povo por seus maus atos, mas Eles
deveriam ter entendido que o povo de Israel só poderia ser conquistado se o seu
Divino protetor os tivesse entregado (verso 30 ao 34). Deus punirá os inimigos
de Israel, pois os mesmos aproveitaram a ocasião para serem cruéis
menosprezando não apenas Israel, mas atribuindo a seus deuses a vitória (35).
Sobre isso mais uma vez Comentário
Bíblico de Deuteronômio Moody é preciso, pois diz ao comentar os versos 29b a 34:
“Além
disso, se o inimigo fosse sábio, atentariam para o seu fim. Este tema continua
no versículo 32 e segs. Sua arrogância se transformaria em tremor, se
entendessem que o Deus de Israel, que julgou até o Seu próprio povo com ira
abrasadora, certamente os julgaria também com justiça estrita (v. 34) por causa
de sua depravação e crueldade (vs. 32, 33). O maior dos males da nação inimiga
seria o de estar em inimizade com o povo de Deus. Porque, embora isto
representasse a vara da ira de Deus contra Israel, seus próprios motivos e
propósitos seriam bastante diferentes (cons. 27b; Is. 10:7 e segs.).”[3]
Assim o hino nos está a mostrar que os
inimigos de Israel ao invés de orgulho deveriam ter temor, mas não foi esse o
sentimento deles, pois achariam que venceram ao Senhor e por essa razão
receberiam o catigo.
O
texto vai do verso 34 ao 42 mostrando a misericórdia de Deus ao seu povo, pois
Deus não permitiria que os inimigos de Israel os destruíssem totalmente, mesmo
que os mesmos merecessem tal castigo.
2.6
O final do hino
O hino termina dizendo
para todas as nações da terra se alegrar, pois Deus seria misericordioso com
eles. Isto claramente é uma benção, uma boa noticia, pois a nação da onde viria
o Salvador seria preservada pelas mãos poderosas de Deus. O Comentário de Moody
mais uma vez nos mostra essa alegria contida neste verso 43:
O hino termina com a perspectiva do júbilo
sobre o juízo de Deus que envolve ambos, a retribuição ao inimigo e a expiação
de toda a culpa dentro do reino de Deus. Uma vez que as nações são
universalmente chamadas para participarem da alegria da salvação de Deus, o
horizonte desta esperança é claramente a era messiânica, quando todas as nações
da terra encontrarão bênçãos na semente de Abraão.[4]
Podemos glorificar a Deus
por proteger seu povo cumprindo sua promessa feita a Abraão de abençoar todas
as famílias da terra!
Conclusão:
Agora fica fácil entender o verso 39
Agora que colocamos o
contexto e analisamos completamente o hino de Moises fica fácil compreender o
verso 39 que diz:
"Vejam
agora que eu sou o único, eu mesmo. Não há deus além de mim. Faço morrer e faço
viver, feri e curarei, e ninguém é capaz de livrar-se da minha mão. Deuteronômio
32:39”
Deus está falando para seu povo que não existe outro Deus,
pois Ele é único! Os idolatras confiariam no poder de seus deuses para defendê-los,
mas eles se mostrariam incapazes diante do Deus verdadeiro. Portanto o povo de
Deus deveria aprender que o seu Deus era o único Senhor! Deus também é o dono
da vida e da morte, pois é Ele o criador e, portanto pode dar vida e tirar a
vida. Ele pode castigar com feridas os desobedientes e curar os mesmos quando
existe arrependimento e, ninguém pode escapar dos seus justos juízos.
São
essas verdades que o texto está apresentando, pois o nosso Senhor é Deus justo
e santo! Deus não determinou a maldade dos povos apresentados neste texto (Israel
e gentios), mas puniu a maldade que eles fizeram de maneira livre. Aleluia, o
nosso Deus é o Justo juiz de toda a Terra!
Excelente texto. Comprova cabalmente que este versículo está longe de comprovar qualquer determinismo incondicional.
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