segunda-feira, 24 de julho de 2017

Entrevista com Pr. Silas Daniel, autor do livro "Arminianismo: A mecânica da salvação"


É com grande alegria que entrevistamos o Pr. Silas Daniel que recentemente lançou seu livro "Arminianismo: A mecânica da Salvação". Este livro vem sendo elogiado no meio teológico brasileiro por mostrar de maneira histórica, logica e bíblica a teologia arminiana sempre defendida pelas Assembleias de Deus. Segue as perguntas que fizemos ao renomado pastor que gentilmente se propôs a nos responder.  

1) Pastor para começar queremos que o senhor nos conte sobre sua trajetória de fé. Como conheceu o evangelho e como chegou a ser esse brilhante escritor que nos abençoa com seus livros e artigos?

Nasci em um lar evangélico, só que minha experiência de conversão a Cristo ocorreu aos 9 anos de idade, quando meu pai chamou à parte a mim e a meus dois irmãos, que tínhamos à época 10, 9 e 7 anos respectivamente, para nos apresentar o plano de Salvação de uma forma que nós pudéssemos entender. Após sua exposição clara, ele perguntou se queríamos aceitar Jesus como Senhor e Salvador de nossas vidas, e nós respondemos em uníssono que queríamos. Oramos com ele naquela oportunidade e passamos a seguir a Cristo de fato a partir daquele dia. Depois dessa experiência, ainda aos 9 anos, li a Bíblia toda pela primeira vez. Li também o meu primeiro livro evangélico inteiro com essa idade – “Heróis da Fé” (CPAD), do missionário Orlando Boyer – e continuei a ler a Bíblia e livros evangélicos sem parar – inclusive, obras teológicas já na minha pré-adolescência. Com 10 anos, já havia lido a Bíblia toda três vezes. Um fato enriquecedor para minha vida espiritual também foi termos em casa, diariamente, o culto doméstico, onde aprendemos a maioria dos hinos da Harpa Cristã e do Cantor Cristão; e, logo após o culto, tínhamos muitas vezes conversas edificantes sobre textos da Palavra de Deus. Nossos pais sempre nos estimularam à leitura e à oração. Aos 14 anos, passei pela experiência do Batismo no Espírito Santo. Aos 15 anos, comecei a pregar. Aos 17 anos, passei a dirigir um ponto de pregação da Campanha Evangelizadora da Assembleia de Deus em Recife, igreja onde congregava. Aos 18 anos, fui consagrado ao diaconato e aos 20, ao presbitério, ambas as vezes pelo pastor José Leôncio da Silva, então líder da AD pernambucana. Com 19 anos, lancei meu primeiro livro: um comentário devocional sobre a Parábola do Filho Pródigo. Foi uma obra independente. Fiz uma tiragem inicial de 1,1 mil exemplares, a qual foi vendida em 3 meses. Ainda aos 20 anos, mudei-me para o Rio de Janeiro, onde terminei meus estudos e fui ordenado ao ministério – aos 23 anos, como evangelista e aos 27 anos, como pastor. Sou a terceira geração de pastores assembleianos em minha família – meu avô de parte de pai e meu pai, ambos em Pernambuco, foram os primeiros. No Rio de Janeiro, fiz Jornalismo e Teologia, e ainda estou concluindo um curso de Direito. Há 19 anos trabalho na Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), sempre na área de Jornalismo. Há 8 anos e meio chefio o Departamento de Jornalismo da Casa. Nesses anos, já publiquei 11 livros pela CPAD, sendo 4 em coautoria. Desde minha adolescência, sou apaixonado por pregar, ensinar e escrever acerca da Palavra de Deus. Com o passar do tempo, apenas desenvolvi esse dom que Deus me deu por sua graça.

2) Lembramos de um debate que o irmão teve com um conhecido calvinista referente ao seu artigo “Em defesa do arminianismo”. O irmão poderia nos falar um pouco sobre esse debate?

Nos últimos anos, surgiu uma onda neocalvinista nos Estados Unidos, e assim como acontece com tudo que é moda nos EUA, não foi diferente nesse caso: a onda chegou também ao Brasil. Logo que constatei que alguns assembleianos em nosso país – principalmente jovens, mas alguns obreiros também – estavam aderindo ao calvinismo por falta de um melhor conhecimento sobre a posição arminiana, e que a liderança da nossa denominação não havia ainda atentado para esse problema, resolvi trazer essa discussão, que se dava até então apenas na periferia – isto é, somente na internet, via alguns blogs e redes sociais – para o centro das atenções da denominação, escrevendo um artigo sobre o assunto na revista oficial de reflexão teológica da denominação: a revista “Obreiro Aprovado” (CPAD). Qual não foi a minha surpresa ao ver que esse artigo – escrito em uma revista assembleiana e voltado apenas e exclusivamente para o público assembleiano – começou a ganhar repercussão fora dos arraiais da AD. Até hoje não sei direito o porquê. Há quem diga que uma vez que os irmãos calvinistas passaram, nos últimos anos, a vender mais obras teológicas e a superlotar seus eventos teológicos depois que muitos assembleianos começaram a se interessar pelo calvinismo, esse meu artigo em uma revista teológica oficial da denominação passou a chamar a atenção desses irmãos de fora do círculo assembleiano. Há também quem diga que, na verdade, alguns assembleianos calvinistas militantes, preocupados com a minha crítica à adesão de assembleianos ao neocalvinismo, foram incomodar o irmão Franklin para que rebatesse meu artigo. Simplesmente, não sei. O que sei é que o debate com o irmão Franklin Ferreira se deu em um tom respeitoso, irênico. E atraiu uma grande audiência na internet. Passei até a ser abordado constantemente em minhas costumeiras viagens para ministrar pelo Brasil por irmãos em Cristo ávidos pela conclusão da minha série de respostas às objeções do irmão Franklin ao meu artigo. Meus artigos-resposta, como muitos devem saber, foram publicados em minha coluna no site CPADNews. Ainda tinha mais uns dois artigos para publicar encerrando a sequência de respostas (se é que seria encerrada mesmo, porque eventuais novas intervenções do irmão Franklin poderiam provocar naturalmente novas respostas), quando a direção da CPAD me deu a sugestão de, em vez de escrever um “livro” na internet sobre o assunto (meus artigos eram enormes), publicar um livro pela CPAD abordando o tema. Topei. Assim, passei um ano escrevendo o livro “Arminianismo – A Mecânica da Salvação”, meu undécimo livro pela Casa, lançado há pouco mais de dois meses e cuja segunda tiragem já está sendo impressa nesta semana.
Outro fruto dessa série de artigos é que já fui abordado em lugares diferentes do país por mais de uma dezena de irmãos que me confidenciaram que haviam aderido ao calvinismo, mas, após lerem meus artigos e se aprofundarem mais no conhecimento da teologia arminiana, passaram a ser arminianos. Foi uma alegria ver também a Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) ter como tema da sua 43ª Assembleia Geral Ordinária, realizada em abril deste ano, “Salvação e Livre-Arbítrio”. A liderança da nossa denominação, sempre preocupada na manutenção da identidade assembleiana, decidiu neste ano enfatizar o posicionamento da AD nessa questão, posicionamento este que foi cristalizado em nossa “Declaração de Fé”, que começou a ser elaborada em 2012 e cujo texto final ficou muito bom. Ela é fiel ao legado teológico dos nossos pioneiros.

3) Recentemente ouvimos de um pastor presbiteriano muito famoso que “O futuro da teologia reformada (por reformada ele se refere a calvinismo) no Brasil são as igrejas pentecostais”. O que o irmão acha dessa declaração?

Até entendo essa preocupação. Denominações que são grandes bastiões da teologia calvinista estão em queda no nosso país. Nossos irmãos presbiterianos e congregacionais, por exemplo, segundo o Censo 2010 do IBGE, experimentaram uma queda no número de fiéis nos últimos anos. Em 2000, havia, segundo o IBGE, 981 mil presbiterianos no Brasil. Em 2010, esse número caiu para 921 mil. Em 2000, segundo o IBGE, havia 148 mil congregacionais no país. Em 2010, esse número caiu para 109 mil. Nos Estados Unidos, as denominações históricas também estão em queda por lá. Logo, quando os irmãos calvinistas vêem jovens assembleianos empolgados com o calvinismo, criando sites em defesa do calvinismo, comprando seus livros e enchendo seus eventos, eles têm esperança de que o calvinismo ainda sobreviva no país via pentecostalismo. Entretanto, acho tal declaração exagerada demais. O neocalvinismo é apenas uma onda passageira como outras. Ela já está, inclusive, em fase inicial de declínio. Claro que sempre existirão irmãos calvinistas, mas o calvinismo tende a continuar sendo uma parcela minúscula do evangelicalismo mundial. A maioria esmagadora dos evangélicos no Brasil e no mundo é de pentecostais e sinergistas, e não há nada que sinalize que isso irá mudar nos próximos anos.

4) Vimos nos últimos anos um certo crescimento de pentecostais em nossas igrejas que aderiram a teologia calvinista, membros obreiros e até pastores, muitos inclusive passaram a divulgar esta teologia em nossas escolas e púlpitos. Qual a sua opinião sobre esses e o que o senhor aconselharia a eles? Diante da nova Declaração de Fé das Assembleias de Deus, o senhor considera que a igreja deve tomar posição com relação a esses pastores? E os novos devem ter como critério para adentrar só ministério subscrever a declaração?

Ano passado ou retrasado, cheguei a responder a uma pergunta sobre isso em uma entrevista para um blog pentecostal. Escrevi sobre isso também em meu artigo já mencionado na revista “Obreiro Aprovado” e em um artigo em minha coluna do CPADNews. Volto a dizer aqui o que disse nessas oportunidades: sou absolutamente contra qualquer espécie de “caça às bruxas” dentro da denominação, no sentido de limar da igreja todos aqueles que têm convicções calvinistas. Uma pessoa pode ter convicções calvinistas e permanecer na denominação, pois ninguém vai sair em busca de descobrir quem tem ou não esse tipo de convicção dentro da igreja. Isso é tolice. Agora, o que não podemos aceitar é que obreiros assembleianos, professores de Escola Dominical assembleianos e professores assembleianos de seminários teológicos oficiais da denominação façam proselitismo calvinista nos púlpitos, salas de Escola Dominical e salas de seminários de nossa denominação, indo frontalmente contra o pensamento doutrinário de sua denominação. Se a pessoa quer fazer isso, se quer bater de frente com a liderança de sua igreja e com a posição oficial de sua denominação, é melhor que saia e vá para uma outra denominação onde não terá problemas em ensinar essas coisas.
Quanto à denominação ordenar apenas obreiros que subscrevam a Declaração de Fé das Assembleias de Deus, é mais do que natural. Na verdade, isso já está subentendido em qualquer ordenação ministerial. Aliás, antes mesmo de a Declaração de Fé da AD ser elaborada, isso já existia na prática e explicitamente. Em algumas convenções regionais da AD, a pessoa só é ordenada depois de passar por um teste escrito e uma sabatina oral sobre suas posições teológicas.
Em qualquer denominação, para ser ordenado ao ministério, o candidato a ministro deve empenhar palavra de honra quanto à defesa dos pontos doutrinários esposados pela denominação que o está ordenando. E se ele, depois de ordenado, descumprir seus juramentos ordenatórios, poderá sofrer um processo para ser retirado do ministério. É assim que a coisa é tratada em todas as denominações. Por que deveria ser diferente na Assembleia de Deus? Aliás, nunca foi. Na década de 30, pastores assembleianos que aderiram ao calvinismo e se tornaram militantes dessa corrente dentro da denominação foram excluídos exatamente por essa razão da CGADB pelos missionários e pastores pioneiros que estavam à frente da denominação. Só um desses pastores não voltou atrás, mas todos os demais que haviam sido excluídos e se arrependeram de suas posições calvinistas anteriores, foram reintegrados à AD ainda nos anos 30. Eu conto isso em meu já mencionado artigo “Em Defesa do Arminianismo”, publicado em “Obreiro Aprovado” (CPAD), edição do primeiro trimestre de 2015.
Vejamos outro exemplo: Alguém pode ser considerado ainda assembleiano se não crê mais na doutrina bíblica pentecostal do Batismo no Espírito Santo? Seria coerência se dizer ainda assembleiano mesmo não se crendo mais nessa doutrina? A resposta, obviamente, é “não”. Mas isso não significa que sairemos agora fazendo “caça às bruxas” para saber quem, no fundo, no fundo, pensa ou não assim nas ADs pelo Brasil. Afinal, até aí a coisa é um problema pessoal, de consciência da própria pessoa. O problema só passa do fórum pessoal quando a pessoa resolve confrontar sua denominação para que ela se curve à sua crença pessoal divergente, ou quando sai disseminando-a explicitamente na denominação, o que se constitui também uma atitude de confronto.

5) Essa influência calvinista também tem trazido para dentro da igreja um mal inevitável que via de regra acompanha o calvinismo que é o cessacionismo. Qual a sua visão do cessacionismo e porque o senhor acha que muitos jovens têm aderido a ele ou a uma espécie de pentecostalismo sem prática: eles creem ainda nos dons, mas não vemos uma busca por eles e há até mesmo uma falta de exercício desses dons na igreja?

Deixemos claro: nem todo calvinista é cessacionista. Entretanto, qualquer calvinista mais ortodoxo, mais purista, mais rígido, é cessacionista. O calvinismo traz isso dentro do pacote, por isso muitos que aderem à soteriologia calvinista acabam, com o passar do tempo, após encherem suas mentes de obras calvinistas, também se tornando cessacionistas – se não declaradamente, mas na prática. Eu já vi isso acontecer em uma denominação pentecostal. Após seu líder aderir ao calvinismo, os dons e a busca pelo Batismo no Espírito Santo começaram a ser desestimulados e, pouco tempo depois, não havia mais profecias, batismos no Espírito, manifestações dos dons espirituais, nada disso mais na igreja. Ela se despentecostalizou. Tirou até o nome “pentecostal” do letreiro. Uma pena.

6) O senhor considera o calvinismo uma heresia ou apenas um erro teológico, se a resposta for um erro, quão grave é este erro e qual a melhor forma de combater esse erro na igreja de Cristo?

O calvinismo compatibilista – que é o majoritário hoje no meio calvinista – é apenas um erro teológico. Trata-se de um equívoco apenas no que concerne à mecânica da Salvação e não à mensagem da Salvação, que é o essencial. Além do que, o calvinista compatibilista normalmente toma suas decisões como reais, como qualquer arminiano, mesmo tendo conceitos equivocados sobre a relação entre livre-arbítrio e soberania de Deus e sobre a relação entre livre-arbítrio e onisciência divina. Ele justifica tal atitude jogando a sua contradição lógica no departamento do “mistério”. Ora, como a substância das ações é mais importante do que as implicações lógicas do discurso adotado pela pessoa, e como podemos ser salvos sem precisar saber explicar perfeitamente essa experiência teologicamente, o calvinismo compatibilista não é uma heresia perniciosa. Entretanto, não deixa de ser um erro. E como todo erro, se a pessoa que está nele for imprudente, ele poderá levá-la a algumas tendências que podem ser muito perigosas, como ocorre em todas as compreensões equivocadas sobre a mecânica da Salvação ou em qualquer erro concernente a uma doutrina bíblica secundária. Explico isso em detalhes no meu livro “Arminianismo – A Mecânica da Salvação”. Quanto à melhor forma de combater esse erro, não vejo outra, se não o ensino persistente, sistemático e claro da mecânica da Salvação à luz da Bíblia.

7) Sobre seu livro “Arminianismo: A Mecânica da Salvação”, queremos saber o que motivou o amado irmão a escrever esta obra?

Como já adiantei, esse contexto todo do neocalvinismo no Brasil e o crescente interesse de milhares de irmãos no país em se aprofundar cada vez mais no conhecimento histórico e doutrinário do Arminianismo. Nos últimos dois anos, ministrei dezenas de palestras sobre esse assunto pelo país e vi esse desejo nas pessoas. Diante disso, e ainda mais depois da sugestão da própria CPAD para que eu escrevesse a respeito do assunto, não pensei duas vezes e parei um projeto literário que já estava a caminho para dar início a este, que veio ao lume neste ano.

9) O senhor pretende escrever mais livros sobre a temática arminianismo?

Talvez eu escreva só mais um livro sobre o assunto. Ainda é um esboço em minha mente. Afinal, há muitos outros temas igualmente prementes e/ou interessantes que precisam ser abordados.

10) Mande um recado para nossos mais de 34 mil curtidores.

Tenho recebido mensagens de alguns leitores da página elogiando a obra e gostaria de agradecer ao apoio de todos vocês. Obrigado pela divulgação do nosso trabalho! Que Deus continue abençoando a cada um de forma especial. E quando estiverem de joelhos, sempre lembrem deste seu conservo, pastor Silas Daniel.

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