
1) Poderia nos falar um pouco
sobre o irmão? Família, ministério e formação acadêmica.
R – Primeiramente, é um prazer
responder estas perguntas do AZ. Sou pastor e professor de Teologia desde 1998
e de Filosofia desde 2010. Fui consagrado como pastor Congregacional pela
Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil, em 2001. Saímos, eu
e a igreja que pastoreava, da AIECB há 10 anos e formamos a IEVCA – Igreja
Evangélica Aliança, igreja independente, que funcionou até 2016. Desde Outubro
de 2016, filiamo-nos à Igreja de Deus no Brasil. Dirijo o IALTH – Instituto
Aliança de Linguística Teologia e Humanidades, que funciona desde 2014 com cursos
de Teologia (Bacharel), Missiologia, Capelania, Liderança e diversas de
pós-graduações, a partir de convênios com faculdades credenciadas e
reconhecidas pelo MEC. Sou casado com Patrícia há 16 anos e temos uma filhinha,
Daniella, de 2 anos. Sou graduado em Teologia (STPN-FATIN) e Filosofia (FAEME),
pós-graduado em Teologia Bíblica (FATIN), Docência do Ensino Superior (FATIN),
Psicopedagogia Institucional (FATIN) e Gestão em EaD (FATIN), mestre em
Filosofia (UFPE), doutor em Teologia (FAMA) e doutorando em Filosofia (UFPE).
2) Sabendo que o irmão é um doutorando em Filosofia e também é um teólogo. Poderia nos falar os benefícios da filosofia para o pensamento religioso? Ela é uma grande arma para apologética em sua opinião?
R- Sou e serei eterno devedor da
filosofia. Em muitos aspectos, a filosofia (inclusive, a que é conhecida como
“filosofia cristã”) abriu minha mente. Especificamente quanto ao pensar
teológico, sem filosofia vc simplesmente não compreende vários aspectos com os
quais lida a teologia, tais como os conceitos e as implicações de
“livre-arbítrio”, “presciência”, “essência”/”substância”, “trindade”, “bem”,
“mal”, “moral”, etc. Quanto à apologética, além dos pontos sobre os quais
falei, ainda envolve a percepção de que temos de ter um profundo e amplo
conhecimento geral, pois as discussões sobre temas e, especificamente, quanto
aos desafios enfrentados pela cristandade não se limitam apenas à problemática
teológica. Pontos éticos difíceis de responder, ramificações
sócio-hitórico-culturais das mais diversas, na sociedade em que vivemos, fazem
do estudo filosófico algo essencial à nossa formação ministerial e pessoal.
3) Sabemos que entre as teologias
mais faladas da atualidade estão o Calvinismo, o Arminianismo e o Molinismo.
Qual delas o irmao considera mais distante do evangelho?
R – Antes, gostaria de dizer que
fui 18 anos calvinista. E quando falo de calvinista, quero dizer um ferrenho
defensor do calvinismo. Dizia, até uns anos atrás, que dentre tais correntes,
“o calvinismo era o que errava menos”. Mas, confesso (e, tenho certeza de que
isso não é só no meu caso), que o calvinismo era por mim defendido muito mais
por paixão ideológica do que pela acuracidade ou a correta dimensão de ter
esgotado as possibilidades do que pensava, colocando-as ao extremo para serem
provadas. Simplesmente, muito das ideias centrais do calvinismo quanto à
salvação, à santificação, o conhecimento de Deus, a ideia de soberania de Deus,
a questão da pecaminosidade humana etc, é simplesmente errado. Calvinistas
vangloriam-se de serem os conhecedores e detentores verdadeiros do que chamam
de “doutrinas da graça”, mas o que se vê no pensamento calvinista é, pelo
contrário, uma teologia em que se valoriza – ao meu ver, erroneamente inclusive
– o que entendem por “soberania divina” em detrimento de quaisquer ações
humanas. Deus é tão exaltado em sua “soberania”, que a mesma vira tirania da
pior espécie, com atos arbitrários não
explicados, como “manifestar seu amor” e “exultar em sua própria glória”
lançando homens, mulheres e crianças ao
inferno, porque não participaram de um “decreto divino” que é convenientemente
proclamado como “inefável”, “indizível”, “inalcançável”.
4) O Molinismo ficou muito conhecido por causa do brilhante William Lane Craig, mas no Brasil vemos um desconhecimento desta corrente teológica. Como fazer para que o Molinismo seja mais conhecido?
R – Bem, creio ser fundamental
que os molinistas comecem a produzir. E refiro-me a livros, artigos, trabalhos
conjuntos, etc., e não a textos em mídias sociais. É necessário um trabalho
mais sistemático dos molinistas, não só a nível Brasil, mas em termos de
Ocidente. Creio que o IALTH foi a única instituição na região do Recife e
Grande Recife a proporcionar, há alguns meses, um debate, inicial sobre
“Calvinismo x Arminianismo x Molinismo”, com a tentativa de expor,
amigavelmente, as três correntes mais pulsantes do evangelicalismo ocidental,
que versam sobre o problema “soberania de Deus e liberdade humana”. Notava-se
na ocasião a vontade, de quase todos presentes, em conhecer o Molinismo,
especialmente. Enfim, o Molinismo tem um longo caminho a percorrer ainda nas
terras tupiniquins.
5) Em sua opinião quem é a referencia teológica do Brasil?
R – Difícil dizer. Há muitos e
bons teólogos no Brasil, mas são virtualmente desconhecidos. Contudo, dada sua
lucidez, posso exemplificar dois nomes: o Carlos Vailatti e o Silas Daniel,
ainda que suas obras não tenham o alcance merecido.
6) Um renomado teólogo
presbiteriano disse: “Deus determina o pecado, mas o homem é o culpado!” Qual
sua opinião sobre essa frase?
R – É um clássico exemplo do
pensamento que nasce de determinado pressuposto, o qual se pretende explicar
com sentenças complexas, para se produzir o efeito de resposta adequada,
quando, na verdade, a “resposta” não explica coisa alguma! E olhe que, há
alguns anos, enquanto calvinista, confesso que eu mesmo poderia ter dito uma
frase assim! Explico: por que “Deus determina os pecados”? Porque, na teologia
calvinista, a defendida pelo autor da frase, para ser soberano, é necessário
que Deus determine todas as coisas e isto inclui os mínimos aspectos da vontade
de seres livres. A partir daí, o problema óbvio se evidencia, pois Deus surge
como autor do mal. Ora, mas isso em si é um absurdo, pois “a Deus ninguém
tenta” (como nos diz a Carta de Tiago). Como, então, Deus pode ser aquele que
determina todas as coisas e ainda assim não ser o autor do mal? A resposta
encontrada no calvinismo foi lançar a própria resposta ao nível do “indizível”,
do “inefável”, do “mistério”. Assim, tem-se a aparência de uma “resposta”, mas,
de fato, além desta assertiva nada responder, complica ainda mais as coisas,
pois denota pura e simples arbitrariedade de Deus (“Deus salvou/condenou quem
ele quis, porque ele assim o quis”).
7) O AZ é uma pagina que usa o
humor como ferramenta apologética. Qual a sua opinião sobre essa tática de
apologética?
R – Penso que sempre temos de ser
responsáveis, ainda que estejamos no confronto de ideias. A tática de se expor
os desafios de uma corrente teológica contrária, salvo engano, começou no
facebook com o “Calvinismo da Zueira” e, posteriormente, os arminianos fundaram
o AZ. O humor é e sempre foi uma ferramenta de crítica, de engajamento
político-social e, recentemente, temos visto o mesmo no viés teológico. Em
suma, o humor sempre foi usado no debate ideológico, seja para registrar os pontos
fracos das ideias que se criticam, seja para ressaltar os fortes das que se
defendem. Como qualquer outro meio, creio ser legítimo, desde que, repito, seja
feito com respeito e atenha-se àquilo para o que se propôs. O AZ sempre se
propôs a combater os pensamentos contrários ao arminianismo, mais
especificamente o calvinismo, e baseia-se principalmente nos graves pontos
deste, nos absurdos, nas discrepâncias e alguns contrassensos defendidos no
calvinismo. Muito do que se é contra o humor, atualmente, provém menos de zelo
escriturístico ou por questões de unidade, do que de generalizada e infundada
autovitimização, hipocrisia e irascibilidade veladas, marcas registradas da
sociedade atual.
8) Sabemos que o irmão acompanha
a pagina. Qual postagem o irmão mais gostou?
R – A que mais me chamou a
atenção foi a colagem de três declarações de três grandes vultos no calvinismo
nacional: uma acerca de Hebreus, cap. 6, sobre o verbo “experimentaram”; a
outra, sobre Jesus, no céu, “sentir fome, sono” (sic), enfim, as necessidades
comuns a quaisquer corpos biológicos mortais. E, por fim – e talvez a
declaração mais confusa que já ouvi de um calvinista de vulto nacional -, sobre
as “relações intra e extratrinitárias”, na qual se afirmou que Jesus só
conhecia o que Deus Pai conhecia nas relações “intratrinitárias”. Tudo para
justificar passagens misteriosas nos Evangelhos e em Marcos, nas quais Jesus
obviamente não sabia de determinadas informações. Aliás, este tipo de
pseudo-intelectualismo é, infelizmente, cada vez mais comum em nosso meio:
simplesmente baseado em absolutamente nada, a não ser em elucubrações daquilo
que ele mesmo fantasia, o sujeito cria ilações com um linguajar “teologuês” que
lhe parece convincente, fala com ar de seriedade reflexiva e apresenta o
pensamento como “argumentação impecável”, para que não desconfiemos que ele
retirou aquilo do nada e, sem motivo algum, passou a acreditar no que ele mesmo
declarou e declara. Afinal de contas, quais e como se dão essas “relações
intratrinitárias”? O que isto significa? Ora, se há relações de dois tipos na
Trindade, “trinitárias e extratrinitárias”, elas teriam de ser facilmente
discerníveis, para que pudéssemos classifica-las com clareza, com mínimo
discernimento. Teriam de ser quase auto-evidentes. Mas, além de nunca ter se
ouvido falar de algo assim, o que torna a coisa ainda mais desconfortável e até
degradante é o fato de que não só quem assim asseverou parece crer mesmo nessa
bobagem, como outros do mesmo credo, tidos por mais sérios, silenciam e uns té
defendem, revelando sem sombra de dúvidas que as críticas feitas são seletivas
e a “ortodoxia” de muitos dos tais é uma “confraria de comadres”. É
absolutamente lamentável e, particularmente, creio que o AZ deve ter tido os
mais altos índices de acessos à época em que, com bom humor, “zoou” desse tipo
de pseudo-ciência teológica.
9) Poderia nos falar sobre os projetos do irmão na área acadêmica? Fale um pouco sobre a IALTH e outros projetos.
R – Sim. Na verdade, temos vários projetos. Hoje, o nosso
Instituto, o IALTH, é o centro de formação teológica e das Humanidades que mais
cresce na região. Nossa sede fica em Cidade Universitária, Recife, Pernambuco.
Temos atualmente 5 pólos espalhados pela RMR: na Guabiraba, em Arthur Lundgren
I, na Bomba do Hemetério, na Estância e no Cabo. Oferecemos cursos livres de
Teologia (Bacharel), Missiologia (Plena), Capelania e Aconselhamento Bíblico,
Liderança, além de algumas pós-graduações (Teologia Bíblica e Sistemática,
Psicopedagogia Clínica e Institucional, Ciência da Religião), estas em parceria
com instituições devidamente reconhecidas e credenciadas pelo MEC.
Recentemente, também passamos a oferecer, em parceria com uma faculdade
credenciada pelo MEC, o curso de Formação de Docentes, conhecido como “FORDOC”,
uma iniciativa do governo federal para a capacitação de docentes que já tenham
uma graduação, afim de que após um ano de curso tenham outra graduação a nível
de licenciatura, para que possam atuar como professores no ensino médio nas
redes escolares pública e privada. O FORDOC em Filosofia, permitindo Deus,
iniciará em Agosto de 2017.
No âmbito
pessoal, estamos terminando o doutorado em
Filosofia na UFPE. Pretendemos escrever dois livros: um sobre lógica
não-formal e outro sobre teologia (especificamente, a abrangência das respostas
do molinismo). Pretendemos, concomitantemente, que o IALTH se torne um centro
de referência nacional e, permitindo Deus, internacional, com a proposta que
sempre pautou a missão do Instituto: formar alunos sob os viezes acadêmico e
ministerial e, nas Humanidades, ser um centro de ensino realmente de ponta.
Todos estes projetos e os resultados de nosso trabalho, que já se fazem
conhecidos na região do Grande Recife, são, acima de qualquer outra coisa,
fruto da bênção e orientação de Deus pois nosso objetivo maior é a expansão do
Reino de Deus na terra, principalmente através da informação e formação
sólidas, coerentes, dinâmicas e atuais de todos os que nos procuram
10) Para terminar deixe uma mensagem para o pessoal do AZ e também para nossos curtidores.
R – A mensagem que gostaria de deixar para os leitores é a
mesma que o apóstolo Paulo deixou para o jovem pastor Timóteo, em 1ª Timóteo
4:13-16: “Persiste em ler,
exortar e ensinar, até que eu vá. Não desprezes o dom que há em ti, o qual te
foi dado por profecia, com a imposição das mãos do presbitério. Medita estas
coisas; ocupa-te nelas, para que o teu aproveitamento seja manifesto a todos. Tem
cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo
isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem”. Ao contrário do que
muitos podem pensar, creio que os leitores de páginas como o AZ são, em sua
maioria, estudantes e/ou entusiastas de teologia, filosofia e áreas afins. Daí
o porquê de minha palavra. Creio, também, que é composto de um pessoal
relativamente jovem e que está ávido por defender os preceitos bíblicos. Mas, é
importante lembrar sempre que, para se tornar um apologista, o cristão deve ser
humilde e saber que são necessários anos e anos de leitura disciplinada,
pesquisa, e tudo não vem senão com foco e garra. Isto explica as primeiras
palavras de Paulo, “persiste em ler”. Ao fim, ele reforça esta ideia,
orientando Timóteo a que ele tivesse cuidado de si mesmo e da doutrina,
perseverando nestas coisas. É nisto que consiste a chave para que, ao fim do
nosso chamado humano, possamos ouvir de Deus que fomos realmente obreiros
aprovados.
Nota: O AZ surgiu antes do CZ.
Nota: O AZ surgiu antes do CZ.